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A Alocução da Raposa
A todos vós, sem excepção, a minha saudação cordial; a todos os galos e galinhas que vieram aqui ouvir-me, alguns de bem longe, desde há várias horas sem mais que uma minhoca no papo, outros tendo sido obrigados a deixar a criação ao cuidado de vizinhos ou parentes, a todos e todas a minha saudação cordial.
Claro que para nós, raposas, é evidente que não há só galinhas conscientes, galinhas responsáveis, galinhas que sabem o que querem, mas também galinhas hesitantes, galinhas mal-esclarecidas, galinhas ignorantes e irresponsáveis. E com isto eis-me já dentro do meu assunto, pois porque é que há-de haver galinhas e galos cuja vida está tão bem regulada e protegida que não precisam de preocupar-se nem com a criação, enquanto há ainda outros que continuam a ter de arcar eles mesmos com a tremenda responsabilidade do seu sustento e do sustento dos seus? Refiro-me evidentemente por um lado àqueles galos e galinhas que têm a verdadeira felicidade de habitar a sociedade-modelo que criámos no nosso aviário, e refiro-me por outro lado àqueles penosos que não estão ainda nesse caso.
Para mim, como aliás para todas as raposas verdadeiramente responsáveis, há uma verdade inalienável, e por ela estou, estamos todas dispostas a sacrificar o que temos de mais caro: a nossa pele. Diz essa intangível verdade que todos as galinhas e galos nascem iguais e livres, independentemente da sua raça, ascendência, religião, cor das penas e ainda independentemente do seu sexo e das suas convicções.
ovação tímida
A Alocução da Raposa
A todos vós, sem excepção, a minha saudação cordial; a todos os galos e galinhas que vieram aqui ouvir-me, alguns de bem longe, desde há várias horas sem mais que uma minhoca no papo, outros tendo sido obrigados a deixar a criação ao cuidado de vizinhos ou parentes, a todos e todas a minha saudação cordial.
Claro que para nós, raposas, é evidente que não há só galinhas conscientes, galinhas responsáveis, galinhas que sabem o que querem, mas também galinhas hesitantes, galinhas mal-esclarecidas, galinhas ignorantes e irresponsáveis. E com isto eis-me já dentro do meu assunto, pois porque é que há-de haver galinhas e galos cuja vida está tão bem regulada e protegida que não precisam de preocupar-se nem com a criação, enquanto há ainda outros que continuam a ter de arcar eles mesmos com a tremenda responsabilidade do seu sustento e do sustento dos seus? Refiro-me evidentemente por um lado àqueles galos e galinhas que têm a verdadeira felicidade de habitar a sociedade-modelo que criámos no nosso aviário, e refiro-me por outro lado àqueles penosos que não estão ainda nesse caso.
Para mim, como aliás para todas as raposas verdadeiramente responsáveis, há uma verdade inalienável, e por ela estou, estamos todas dispostas a sacrificar o que temos de mais caro: a nossa pele. Diz essa intangível verdade que todos as galinhas e galos nascem iguais e livres, independentemente da sua raça, ascendência, religião, cor das penas e ainda independentemente do seu sexo e das suas convicções.
ovação tímida
Não me admira a vossa convicta aprovação, assim como me não admira a vossa justa firmeza em defender estes princípios, e a vossa verdadeira coesão e unidade, bem simbolizadas no facto de estardes aqui em tão grande número e tão alinhados que de cada um de vós só vejo metade, unindo-a os meus olhos muito naturalmente à metade do vizinho detrás. De resto, um colega meu dizia recentemente: as galinhas estão descontentes, querem actos e não palavras.
cacarejar de assentimento
Pois bem, é por isso que aqui estou, para vos dizer que se cometeram alguns erros no passado, mas que é determinação nossa levar-vos hoje a todos a fazer uso verdadeiramente condigno da vossa liberdade, assegurando-vos todas as regalias que o modelo de sociedade praticado no nosso aviário conquistou para vós, e retribuindo vós a segurança, a tranquilidade, a confiança que ali se gozam com a vossa honesta e regular produção.
Há aí muito quem se finja de cordeiro e não passe de lobo mal disfarçado, não faltando também exemplos do contrário, mas eu sou como sempre fui, e nunca deixarei de ser, a raposa, a vossa raposa, nada mais que a vossa raposa
ovação hesitante
e por isso eu pergunto: quantas vezes, nesses terrenos onde ainda habitais, sem um mínimo de estatuto e de dignidade, quantas vezes dizia, não tem sucedido que vós, ou um dos vossos, voa a um muro, ou simplesmente mete a cabeça por uma fresta, e sente verdadeiras cólicas, porque assiste a confrangedores episódios de rapina, levados a cabo sobre os vossos, por gatos ou idênticos seres maléficos, espíritos do mal, duendes transviados, sereias encantadoras? Quantas vezes isso não tem sucedido e não continua a suceder? Sim, quantas vezes? Não preciso de vos dizer que no nosso aviário estais livres desse perigo, que estais verdadeiramente protegidos, que estais em paz, que tendes finalmente o bem-estar que tanto almejais sem ainda o terdes atingido, que tendes também sossego, que estais defendidos do que se passa no exterior, que nada vindo de fora vos poderá afectar ou poderá afectar a vossa disposição e todo o ritmo da vossa vida e da vossa produção. Mas quereis mais exemplos? Quantas vezes vos não tem sucedido, a vós mesmos ou a um dos vossos, quedardes desnorteados, perderdes subitamente o tino ao rumo que leváveis, por terdes ido longe de mais em terreno desconhecido e já não saberdes que lugar é aquele, ficando então a olhar para trás, saudosos e também cheios de medo, furricando-vos pelas pernas abaixo?
cacarejos furtivos
Sim,
1 comentário:
Caro Luís França,
Só hoje descobri o seu blog da fenda.
Tenho algumas coisas antigas desta editora, se quiser posso contribuir... envio-lhe os scanners das capas e alguma informação sobre as edições.
exemplo: revistas fenda, pravda e algumas edições antigas desta grande casa.
abraço
miguel.
www.ocafedosloucos.blogspot.co
www.osilenciodoslivros.blogspot.com
h.miguelc@gmail.com
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